MAIS SAÚDE
A Medicina e Saúde Integrativa representa um novo modelo de cuidado em saúde da virada do século XX para o século XXI, centrado na saúde e bem estar da pessoa compreendida em sua multidimensionalidade física, vital, psico-emocional, espiritual, social e ambiental, de caráter transdisciplinar, baseada na combinação da Medicina Convencional (Alopatia ou Biomedicina e suas especialidades) com as Medicinas Tradicionais (Medicina Tradicional Chinesa, Medicina Ayurvédica, por exemplo) e Complementares (Medicina Antroposófica, Homeopatia, por exemplo), baseada em evidências científicas que vem sendo agrupadas em pesquisas robustas nos últimos 25 anos.
Essas abordagens têm como finalidade oferecer maior variedade de opções de tratamento, tanto medicamentoso com produtos naturais, fitoterápicos, medicamentos dinamizados, assim como não-medicamentoso, como massagem, yoga, meditação, arte terapia, aconselhamento biográfico, etc, associada e mudanças no estilo de vida, alimentação e atividades físicas saudáveis, voltadas desde a promoção da saúde, ao cuidado integral de condições patológicas até a recuperação da saúde, sem perder de vista o uso racional de todo tratamento convencional desde cirurgia, antibioticoterapia e tratamento farmacológico moderno.
O surgimento deste movimento de integração do conhecimento ancestral oriental e ocidental com a medicina moderna, começou a ser desenhado no final dos anos 1980, e em 1999 os grandes centros universitários de saúde dos EUA se uniram, com apoio do National Center of Complementary and Integrative Health do National Institute of Health (NCCIH / NIH) , para criar o Academic Consortium for Integrative Medicine & Health , reunindo mais de 100 universidades de renome que trabalham com abordagem integrativa em torno da promoção de pesquisa na área.
O Academic Consortium for Integrative Medicine & Health norte-americano definiu o conceito de Medicina e Saúde Integrativa da seguinte forma: “A Medicina e a Saúde integrativas reafirmam a importância da relação entre o profissional e o paciente, concentram-se na pessoa como um todo, são informadas por evidências e recorrem a todas as abordagens terapêuticas e de estilo de vida, profissionais de saúde e disciplinas apropriadas para alcançar a saúde e a cura da melhor forma possível.”
Inspirados nestes pioneiros norte-americanos, foram desenvolvidos novos Consórcios de pesquisadores e instituições científicas na área em 2018, no Brasil – Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN), que tive a honra de presidir nos primeiros cinco anos – e na Holanda o Dutch Consortium for Integrative Medicine and Health (CIZG). Em 2024 o Consórcio Alemão foi constituído, fortalecendo a rede colaborativa científica internacional. O CABSIN em parceria com a BIREME, unidade da OPAS/OMS, vem organizando as pesquisas científicas com amplo acesso por meio dos mapas de evidência.
O documento da OMS Estratégia das Medicinas Tradicionais 2025-2034 – será lançado em 2025 e norterá esta mudança de paradigma na saúde pública global para os próximos 10 anos. Tive a honra de participar em um grupo como expert da OMS do desenvolvimento da versão que está em consulta pública mundial. Neste documento a Medicina Integrativa é definida como uma “Abordagem interdisciplinar baseada em evidências que visa alcançar a saúde e o bem-estar da pessoa em sua totalidade, usando uma combinação ou fusão respeitosa de conhecimentos, habilidades e práticas biomédicas, e medicinas tradicionais e/ou complementares. Fornece cuidados holísticos que abrangem o continuum de cuidados e pode envolver vários prestadores e instituições de cuidados de saúde.”.
Nos últimos 20 anos, enquanto assistimos a um aumento exponencial de doenças crônicas não-contagiosas, como câncer e doenças cardiovasculares, e uma crise na saúde mental, a quantidade de evidências demonstrando efeito positivo, assim como o número de profissionais que praticam outros modelos de cuidado não-convencionais encontra-se em expansão. Na Suíça desde 2013 foi incorporado nas Faculdades de Medicina o ensino de disciplinas em fitoterapia, medicina tradicional chinesa, homeopatia e medicina antroposófica após um referendo popular. No Brasil o número de Faculdades de Medicina que adotaram disciplinas em MTCI aumentaram exponencialmente, segundo estudo recente de diretor da Associação Brasileira de Ligas Acadêmicas de Saúde Integrativa – ABLASIC.
No Brasil, desde a criação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do Ministério da Saúde em 2006, essas abordagens integrativas vem sendo implementadas paulatinamente no Sistema Único de Saúde (SUS), hoje presentes em 80% dos municípios brasileiros e no sistemas de saúde em mais de 170 países adotando políticas nacionais.